terça-feira, outubro 27, 2009

Vazô!!


É verdade! Beijos de Arame Farpado será lançado oficialmente em território nacional dia 11 de novembro, às 20H30, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. 
O primeiro filme finalizado em 35mm da Vinil Filmes já teve sua pré-estréia, na cidade de Lages, onde 80% das cenas do filme foram rodadas. Foram quatro sessões lotadas e calorosas, com a presença dos profissionais locais, amigos e autoridades que ajudaram nas filmagens. Os atores Renato Turnes, Chico Caprario e Julie Cristie estiveram presentes, junto com Marco Martins, o diretor, e seu fiel assistente, Breno Turnes.


Com a palavra, o diretor:
"A primeira cópia do filme fiz com som stereo SR. O que aconteceu: numa sala de cinema do Shopping Center, onde fiz uma exibição teste, o som desapareceu. Não que o som tenha sumido, mas todo o trabalho que eu e o Leo fizemos não estava lá. Estava tudo abafado, o grave cobrindo tudo. A mixagem ficou irreconhecível.  Foi péssimo, pois eu estava muito ansioso e acabei convidando muita gente. Tava rolando aquele clima de estréia. Todo mundo, antes da sessão, olhando para mim e sorrindo. Depois do filme o Leo fugiu pelos fundos do cinema. Todos vieram me dizer: o filme está ótimo, mas tem que refazer o som. Mas algo aí não batia: o Marx, diretor de fotografia do filme, já tinha assistido a cópia em Sampa e dito: tá lindo. O som tá duca! Corri para o Cineclube Nossa Senhora do Desterro. Outra sessão teste foi marcada. Agora sem ninguém. E tudo funcionou. Conclusão: o problema não era da cópia e sim da regulagem padrão nas salas Dolby. 

Depois dessa sessão foi que me senti seguro para encarar o público de Lages. O Fernando Leão me garantiu que ia dar tudo certo, que a sala de cinema no Serra Shopping estava preparada para meu Stereo SR (spectral record). Entrei na cabine de projeção, aumentei dois pontos no volume e tocamos ficha. Foi ótimo.


Mas como o susto foi grande, decidimos garantir uma segunda cópia em Dolby Digital.  Será esta a cópia que iremos exibir em São Paulo. Desde já gostaria de agradecer a Cinemateca Brasileira pela oportunidade, e convidar todos os amigos para assistir o filme e comemorar conosco mais essa conquista. Quero registrar aqui o apoio total que o Leo me deu durante todo o processo de realização do filme, me mostrando os caminhos possíveis e inimagináveis das ondas sonoras.  Aos meus companheiros da Vinil, obrigado por tudo."



Em Beijos de Arame Farpado, Veludo, um assaltante de segunda linha, reencontra o amor de sua vida, Cacos-de-Vidro.


Cacos, muambeira estonteante, retorna de uma temporada de insucessos no Paraguai. Juntos iniciam uma série de crimes e logo se transformam em queridinhos da imprensa marrom. Fonseca e Pacheco, dois policiais decadentes, precisam capturá-los e reestabelecer a ordem no país.



Para fechar, a estréia em Florianópolis ficou para 2010, quando o CIC reabrir as portas. O Espíndola me deu uma letra: lançar no Iguatemi e fazer um bate-papo na Saraiva depois da sessão. Com a cópia nova, acho que é possível. Vamos ver!

O quê: lançamento do curta Beijos de Arame Farpado
Quando: dia 11 de novembro, quarta-feira, 20H30
Onde: Sala Cinemateca Brasileira, Vila Clementino, SP


Beijos de Arame-Farpado é a segunda parte da “Trilogia da Paixão Marginal”, um conjunto de três curtas-metragens iniciado com “Veludo & Cacos-de-Vidro", que procura revisitar a cinematografia brasileira dos anos 70.

Beijos de Arame Farpado - 2009 / Ilha de Santa Catarina / 15min / 35mm

Ficha Técnica

Direção, Roteiro e Montagem
Marco Martins

Produção Executiva
Gláucia Grigolo
Loli Menezes

Direção de Produção
Sebastião Braga

Direção de Fotografia
Marx Vamerlatti

Som Direto
Leonardo Gomes

Direção de Arte e Figurino
Loli Menezes

Elenco
Renato Turnes
Julie Cristie
Álvaro Guarnieri
Chico Caprario

Trilha Musical: Os Cochabambas

Realização: Vinil Filmes

quarta-feira, agosto 19, 2009

Metamorfoses Imagéticas

Metamorfoses imagéticas é um diálogo com fragmentos do rico universo de Franklin Cascaes, integrando as comemorações do centenário de seu nascimento. O que se tem são vestígios, fluxos contínuos, transformações. Imagens e sons deslizam e se esparramam no ambiente produzindo confluências e acasos, permitindo ao observador mover-se livremente e produzir seus próprios encontros com a obra.


O coquetel de abertura foi um sucesso! Amigos e colegas da classe artística foram conferir o resultado de 2 anos de dedicação.




A equipe

Gustavo Cachorro - finalizador e artista gráfico


Loli Menezes - coordenadora e Marco Martins - editor e fotógrafo

Renato Turnes e Gláucia Grigolo - produtores

Trabalhar com Franklin Cascaes foi uma aventura, entramos num universo cheio de magia, mistérios e genialidade. O processo de criação teve várias etapas, da captação de imagens à edição e manipulação destas imagens, tudo foi reconstruído e desconstruído, dentro de uma perspectiva tecnológia e de uma releitura sob as obras e as referências do Cascaes.


A exposição fica aberta para visitação até dia 25 de setembro, sempre de segunda à sexta, das 10 às 18 hs, no Arquivo Histórico Municipal, praça XV


quinta-feira, julho 16, 2009

Ilha 70


Este texto do Caio foi o ponto de partida para o novo projeto da Vinil. Em breve mais notícias!

PEQUENAS E GRANDES ESPERANÇAS

Pensando (ou lembrando) bem, não foram tão verdes assim. A memória tem sempre essa tendência otimista de filtrar as lembranças más para deixar só o verde, o vivo. Antigamente, sempre era melhor, ainda que não fosse. Talvez porque já esteja, lá, tudo solucionado e a gente possa se ver, no tempo, como quem vê uma personagem num livro ou filme: aconteça o que acontecer, há um fim definido, predeterminado. Essa espécie de improvisação do agora, do que está sendo moldado, causa muito mais angústia. Não temos, como no samba, a menor idéia de como será o amanhã. Encontrar um único adjetivo para os anos 70 não é tão fácil assim. Facílima é a expressão “anos 70”, como se pudéssemos espremer aqueles dez anos em um único significado, ignorando as nuances todas. Os dias em que nada parecia acontecer e não estávamos dentro dos tais anos 70: por trás das circunstâncias históricas, nomes e datas, estávamos dentro de um tempo que ainda não ganhara uma forma exata. Se foram duros? Foram, foram duros. Mas foram também cheios de sonhos e encontros e pequenas e grandes esperanças. Foram anos em que não se podia viver muito para fora: a repressão política nos empurrava para dentro. Nesse movimento, havia duas opções principais e radicais: ou você caía de cabeça nas drogas ou mergulhava na clandestinidade política. O que ligava os dois comportamentos era uma vontade poderosa de mudar o País e o planeta, fosse através do ácido lisérgico nas caixas d’água das cidades, fosse pela revolução do proletariado. Verde mesmo, verde clarinho, desse quase água, era ter perto dos vinte anos e não saber que se sabia muito pouco das ditas coisas da vida. Justamente por isso, enfrentar de peito aberto todos os riscos de dentro e de fora da própria cabeça, esgueirando-se entre paranóias quase sempre reais. Não tínhamos ainda essas marcas deixadas pelos que desistiram, se mataram, foram presos, torturados, assassinados, enlouqueceram – enquanto dentro de nós pequenas partes iam também desistindo, se matando, sendo presas, torturadas, assassinadas, enlouquecendo. Não ter essas marcas, era verde. Verde era ainda estar inteiro e pronto para luta, embora não parecesse. É por isso que, quando a barra pesa, gosto de pensar que dentro do agora talvez exista também um verde qualquer, que não estamos vendo. Só veremos quem sabe quando pudermos aprisionar estes anos num pacotinho, carimbá-lo e colocar na prateleira da História com o título de “anos 80”. Ficarão mais leves, assim batizados??

Caio Fernando Abreu

Crônica publicada no jornal
Zero Hora,
de Porto Alegre, no dia 4 de abril de 1984.

segunda-feira, julho 13, 2009

Novo Endereço

A imagem acima é a vista da janela da sala da edição da nova sede da Vinil Filmes.
Agora estamos na Rua Arcipreste Paiva, ao lado da Catedral, no Edifício Cidade de Florianópolis, apto 1102.

quinta-feira, junho 25, 2009

Prêmios para Ângelo, O Coveiro

Foram 4 prêmios para Ângelo, o Coveiro no Florianópolis Audiovisual Mercosul 2009:

- Melhor Ator para Renatângelo Turnes
- Melhor Vídeo pelo Júri Popular
- Prêmio Quanta de Melhor Vídeo Catarinense
- Prêmio Kodak de Melhor Vídeo Catarinense.

A equipe da Vinil Filmes está muito feliz e orgulhosa!

fotos por Cristiano Prim.

terça-feira, junho 09, 2009

História de Cinema - terceiro episódio

Terceiro Episódio - Segunda Parte



Terceiro Episódio - Primeira Parte

sexta-feira, junho 05, 2009

O terceiro e último episódio...



Chico está na pior. Conseguirá nosso personagem ter sucesso na profissão que escolheu e ainda reconquistar o amor de Marlene?

Histórias de Cinema - episódio 2

Chico precisa levantar a produção de seu filme e toma como exemplo a experiência dos pioneiros do super8 e do vídeo nos anos 80. Chico aprende as principais fases de uma produção – o roteiro, a captação de recursos, o planejamento e a escolha da equipe - e parte pra realização de seu ousado projeto. Dessa vez ele convence Marlene a participar, mas as coisas não acabam muito bem pro seu lado.


segunda-feira, junho 01, 2009

A hora do Ângelo!

Ângelo surgiu quando eu morava no Itacorubi e passava todo dia pelo cemitério. De dentro do ônibus eu via aquele cenário imponente e triste, e então imaginava as tantas histórias que podiam rolar ali. Eu andava vendo muitos filmes expressionistas confesso. E nunca escondi meu enorme interesse pelo Horror, o Fantástico, Histórias Extraordinárias e afins. Todo dia, naquela época, durante os dois minutos em que o ônibus passava pelo Cemitério do Itacorubi eu imaginava uma cena gótica diferente.

Acontece que naquele período - 5 anos atrás - eu, o Marco, a Loli, a Gláucia, o Jefferson, o Dog e o Lucão resolvemos criar a Vinil Filmes. E decidimos fazer um piloto do que seria um programa muito doido para TV, que chamamos de Videophone. Eu fiquei de criar um quadro. Acontece também que eu andava apaixonado por Buster Keaton e Jerry Lewis. Andava estudando os cômicos antigos e muito interessado na comédia física no cinema. E aí juntou isso com aquilo e eu escrevi Ângelo, O Coveiro: uma proposta de série com micro-episódios mudos que contava o dia-a-dia de um coveiro expressionista do Cemitério do Itacorubi.

Pedimos pro Rafael Schlichting fotografar pra gente, o Marco dirigiu, a Loli inventou uma roupa, trouxe uma peruca. Quando a gente estava pintando os meus olhos, o Ângelo nasceu. Ele tinha mandíbula prognata. O tal programa muito louco que ia revolucionar a linguagem televisiva catarinense não se criou, mas a Vinil sim. Depois disso muita coisa aconteceu, muitos filmes e projetos. Colocamos o filminho do Ângelo no Youtube e fez sucesso. Depois enviei para uns festivais e todo mundo gostava dele.

Eu continuei trabalhando sobre a idéia, rabiscando sketches e pensando em formatos em que o personagem pudesse se desenvolver. Até que abriram as inscrições pro Edital da Cinemateca, isso em 2007. Eu decidi juntar os rabiscos e inventar um curta. O projeto tirou primeiro lugar no concurso, a Vinil Filmes produziu, e agora vamos mostrar pra todo mundo mais um filho nosso. Filho meio estranho, com um jeitinho esquisito e diferente, mas muito querido e amado.

Nessa hora eu fico emocionado, porque fazer filmes é essa coisa doida de trabalho coletivo, e eu penso em todo mundo que participou do processo e me ajudou. Meus companheiros da Vinil são tudo pra mim. O Marco é praticamente um co-autor, estava comigo todo o tempo, decupamos e discutimos cada plano, e no set ele comandou a equipe pra que eu pudesse atuar tranquilo. Ele acreditou tanto, tanto. A Loli entendeu o personagem e concebeu um universo plástico pra ele, junto com sua equipe de artistas habilidosos. O Dog se dedicou entre outras coisas ao P&B surpreendente e aos efeitos lindos da imagem. O Jeff trouxe músicas incríveis. A Gláu chefiou as contas e ainda brilhou no set como a amada imortal do Ângelo, sempre doce e impecável.

E por falar nisso tem os outros atores do elenco, uma turma escolhida a dedo por dominar o dom do carão e que pra mim, claro, é a parte mais divertida do trampo: o Paulo, o Malcon, a Cristina, a Milena... É babar muito ovo dizer que todos estão ótimos? Ah! Foda-se, eu os acho maravilhosos mesmo. Tem ainda claro o Marx e sua equipe. Tudo que ele olha vira ouro, e eu tenho sorte quando a câmera dele olha pra mim. Não dá pra falar de todo mundo, porque um filme, mesmo pequeno, reúne muitos colaboradores, mas eu só tenho a agradecer.

Bom, agora eu moro no Centro, e não passo mais todo dia pelo Cemitério do Itacorubi. Acho que cresci, vejo cada dia as coisas de um jeito novo. Continuo insatisfeito, mas mais tranquilo com isso. Quero dizer que estou feliz e ansioso pra ver como as pessoas vão olhar pro Ângelo depois de tudo isso, espero que elas também sejam conquistadas pela sua doçura.

Renato Turnes

fotos do Prim

Exibição para convidados:
Teatro da UBRO
dia 03 de junho - quarta-feira
20h

E depois a festa de lançamento:
Blues Velvet Bar - ZUZUHELL especial!
Exibição as 22h

segunda-feira, maio 25, 2009

CHEGOU!!!!



Pois é... tá na mão! Estamos bolando uma exibição para quarta-feira... como nem eu assisti a cópia final (o Marx disse que está lindo), vamos fazer uma sessão somente para a equipe, elenco e convidados. A estréia mesmo ainda não está confirmada... alguns festivais pedem exclusividade, ainda não tenho o arquivo em vídeo para mandar o DVD para as pré-seleções etc. Mas para aliviar a angústia e a curiosidade dos envolvidos, vamos para o Cinema do Shopping na quarta de manhã... falta só chegar a confirmação.

Enquanto isso, assistam o primeiro episódio do História de Cinema. No sábado a saga continua na RBS, antes do jornal do almoço.

abraços e beijos de pré-estréia,
marco

Histórias de Cinema - assista

Episódio 1 - 1ª Parte



Episódio 1 - 2ª Parte

sábado, maio 16, 2009

... enquanto a lata do Beijos não chega...

... a máquina não pára.
Estamos finalizando "Histórias de Cinema", uma série de 3 episódios que irá ao ar no SC em Cena, nos dias 23 e 30 de maio e 06 de junho, na RBS TV .

Chico é um cara tranqüilo. Ele vive em Santa Catarina, tem uma namorada e muitos amigos. Mas Chico tem um sonho diferente: ser cineasta. Para realizar seu desejo, ele decide fazer um filme que vai mudar a sua vida para sempre.




Nessa aventura ele conta com a ajuda de seus amigos cineastas. Eles dão dicas e contam histórias que fazem Chico voltar no tempo e entender o que é fazer cinema.

Chico encontra o cineasta João Amorim

Histórias de Cinema mistura a linguagem do documentário e da ficção. Uma série informativa, emocionante e divertida que mostra uma visão diferente sobre a aventura de fazer cinema em Santa Catarina.

vinilfilmes@gmail.com

sábado, abril 18, 2009

Sobre Beijos de Arame Farpado e seu processo de criação



Parte I

Dias antes de iniciar as filmagens, escrevi algumas coisas relacionadas aos patrocinadores e apoiadores mas não tive tempo de postar. E o texto envelheceu. Vou aproveitar a deixa e começar de novo.
O tempo. Sempre ele. Estou aprendendo a esperar e relaxar. É preciso a urgência diluída nas coisas todas da vida. Para que não pese demais.
Vou direto ao assunto: fiquei cinco anos esperando para realizar este pequeno curta-metragem. Cinco anos. Chega soar ridículo, mas foi decisão minha: fazer um curta com um bom suporte de captação de imagens, remunerar toda a equipe e elenco, finalizar em película. Isto custa bastante dinheiro.  E o sistema de captação de recursos no Brasil não é muito funcional, para pegar leve. Este filme só aconteceu graças ao Edital da Cinemateca Catarinense/Governo do Estado de SC, aos patrocinadores que fizeram uso da Lei Rouanet: BRDE, Plasticom e Fundação Badesc e aos tantos apoiadores fundamentais.


Neste texto não vou me ater ao vai-e-volta burocrático e toda a espera para levantar o dinheiro necessário para a produção. Esta conversa normalmente me cansa. Prefiro falar da força humana e das idéias que envolveram o projeto.




A Vinil Filmes funciona numa sala de 20X4 num edifício na frente do Clube 12, na rua Hercílio Luz, centro de Florianópolis. É ali que confabulamos todos os nossos planos e estratégias de ação: botamos nossos roteiros na mesa, desenhamos as cenas, provamos figurinos, usamos muito o telefone, ensaiamos os movimentos...





É o QG, lugar para encontrar os profissionais que abraçam nossas histórias. E estava pensando agora: certa vez o Alejandro, falando do Cena 11, o grupo de dança que ele encabeça a mais de dez anos, que eles “funcionam” como uma banda de rock, de pop. Acho que a Vinil tem um pouco disso também. Somos um coletivo independente. E não temos chefe.


Mas a cada filme que levantamos, é uma empresa que se forma. Contratos, cachês, despesas de alimentação, transporte etc. No caso de um curta, isto dura mais ou menos um mês. Vamos ao Beijos: em janeiro iniciamos a pré-produção. Antes ainda eu já tinha feito diversos contatos e mapeado a situação real para a realização do filme.





A idéia de filmar em Lages surgiu primeiro pela necessidade de mudar de cenário. Eu não conseguia imaginar as locações em Florianópolis. Eu precisava de algo novo. Beijos é um Bang-Bang Musical. Nada como ir filmar no velho-oeste, no Planalto Serrano, lugar mais próximo do céu, ideal para grandes tomadas.


Filmamos em 10 dias. 90% externa com tempo bom. Foram dias incríveis e inesquecíveis. A equipe e o elenco passou todo o tempo junto, dormindo no mesmo chalé. Dizem que isso não funciona com todo mundo, que muitas vezes pode atrapalhar a execução do trabalho, já que os profissionais podem se cansar do convívio, da “família” que provisoriamente se forma. No nosso caso, foi o que foi: sintonia. Cumprimos todas nossas diárias sem problemas. E todos, sem exceção, mandaram muito bem.
Depois disso, com o calor da filmagem ainda na pele, decidi editar o filme. Mais dez dias de trabalho incessante. Desta vez solitário, trancado no quarto, sincronizando os takes que foram escolhidos. Descobri que havia filmado mais que o necessário e que muita coisa boa que existe no material bruto iria ficar de fora. Ainda tive que me cuidar para não extrapolar o tempo (sempre ele) estabelecido pelo laboratório. Quinze minutos, foi o que consegui pagar. Deste período não tenho nenhuma foto. Mas que graça teria um cara trancado num quarto na frente de um computador?



O processo de transfer é calculado por minuto. Custa em média mil reais por minuto. Mas se engana quem acha que a conta fica por aí. Muito do trabalho de finalização eu desconhecia e as surpresas foram aparecendo no processo. Mixagem de som, foleys, marcação de cor, de luz. Primeira cópia. Eu, o Marx e o Leo viajamos para Sampa e tocamos ficha. Gugu e William são grandes parceiros. Fizemos o que tinha que ser feito e voltamos para Floripa. O filme foi finalizado e estou aguardando a lata chegar pelo correio. Como uma criança que espera o Papai Noel. Muito AFLITO!!!


E por falar em criança, na segunda-feira vou começar a filmar “O Campeonato de Pescaria”, curta infantil que eu e a Luiza Lins vamos dirigir. A pré acabou hoje e depois de amanhã já estaremos fisgando planos e pescando seqüências. Não vejo a hora!

mm

sábado, fevereiro 28, 2009

GUARACY RODRIGUES

Neste mês o Canal Brasil exibiu um documentário-despedida com o Guará. A câmera acompanhou o velório e o enterro deste incrível ator que morreu de vodka, mas não morreu de tédio. Coincidências sublimes neste momento do meu processo de criação.
Quando conheci Helena Ignês (no FAM em que o Signo do Caos foi exibido), ela me fez uma pergunta direta: "Tu conhece o Guará?". Desconversei e falei dos dois ou três filmes que tinha visto com ele. "Ele é um ator fantástico!", ela me disse. O tempo passou, o Guará morreu . Chafurdando meus livros, encontrei esta entrevista que o Luiz Nazário fez com ele em 1980. Decidi postá-la no blog da Vinil. Obrigado Breno pela paciência em transcrevê-la.


A REPRESENTAÇÃO SEGUNDO GUARÁ

Luiz Nazário – Em A NOITE, Antonioni fez uma experiência com Jeanne Moreau: terminadas as suas cenas, continuava a rodar o filme, registrando os momentos em que a atriz, deixando de ser personagem, não era ainda a pessoa. Como um ator vive estes momentos? Que relação há entre a pessoa, a personagem e este ser intermediário?

Guará – Baseado na minha experiência, não existe este ser intermediário. O que existe quando se termina um plano é a crítica do que se fez. Uma crítica quase técnica. O ser intermediário não passa de uma sofisticação de intelectuais europeus. Esta frase não tem nada de pejorativo, pois amo a sofisticação, a Europa em geral e a cultura italiana e francesa em particular. Agora, a relação entre a pessoa (ator/atriz) e a personagem é outro papo. Um papo nada sutil. É quase violento. A mim a personagem me possui inteiramente, com a força que o demônio possui Rosário, no filme que escrevi para o Neville D’Almeida, Piranhas do asfalto.

L.N. – Quando a personagem o possui, como um demônio, é para que você se esqueça do seu corpo? Representar é uma forma de não assumir o corpo através de sua instrumentalização?

G. – Meu corpo nunca está em jogo, a não ser como manifestação sensual da personagem. Ao mesmo tempo, na imagem, o corpo é a única coisa que domino, isto é, que não me causa surpresa quando o vejo filmado, principalmente se ele é decomposto, quer dizer: close-up das mãos, da sola dos pés, dos órgãos sexuais, dos olhos, dos lábios fechados entre os quais surge a língua úmida, etc. Enfim, o meu corpo está quase sempre assumido, não penso mais nele, mas não o esqueço: ele já não me pertence, pertence à personagem. Fui chamado pelo meu amigo Gilberto Loureiro para fazer um corcunda no seu próximo filme. Aí, sim, meu corpo vai ser literalmente instrumentalizado – é uma caracterização. Estou pensando em algo assim como Charles Laughton em O corcunda de Notre-Dame. O corpo se transforma numa obsessão... mas não se pode perder o humor, como Charles, naquele plano memorável dizendo: “I’m not a man, I’m not a beast”.

L.N. – Qual a sua formação de ator?

G. – Minha formação de ator é a forma-ação. A forma: o diretor, o diretor de fotografia, o figurinista, o cenógrafo, o script, a equipe enfim. À palavra “ação” me transformo em ator. À palavra “corta” volto a ser Guará (personagem/pessoa/ator).

L.N. – Quais seus atores preferidos?

G. – Richard Dreyfus, Zbigniew Cybulski, Gerard Phillipe e todos aqueles monstros sagrados do velho cinema americano: Bette Davis, Bogart, etc. E também qualquer ator dirigido por Hitchcock, até mesmo Doris Day em O homem que sabia demais. E Edgar Buchanans, o juiz de Guns in the afternoon, e também Warren Oates. De qualquer maneira, atualmente estou parado na de Richard Dreyfus.

L.N. – Quando veio em você a noção de representar?

G. – Creio que com a primeira mentira. Quando se mente preciso elaborar, iludir, ser uma outra pessoa sem renunciar ao que você é. Depois, socialmente, a grande mentira, você tem que representar sempre.

L.N. – A representação nasce na família – no teatro do pai e da mãe – ou num desejo constante de ser outro?

G. – O teatro do pai e da mão, como casa de espetáculo, tendo eles como espectadores, é realmente muito interessante e incentivador para o jovem ator (o filho), mas sendo eles o espetáculo em si é mais uma novela de Janete Clair do que teatro. Por outro lado, os pais, como diretores, são muito ditatoriais. O desejo constante de ser outro... isto não existe. Eu não desejo ser outro quando represento, eu quero ser eu mesmo enquanto outra pessoa. Quer dizer, eu quero me colocar no interior de outro ser (personagem) e o transformar para o bem ou para o mal.

L.N. – Fale das suas decepções, no cinema, de ver a sua imagem apreendida de uma forma diversa daquela que havia imaginado, da diferença que existe entre o sonho da representação e a sua realidade, da montagem enfim, que destrói... o quê?

G. – O cinema nunca me decepcionou como criação. Existe a decepção quanto às dimensões. Você sabe, o cinema tem a limitação das duas dimensões. Por outro lado, você idealiza, digamos, um plano que fez e, quando o vê, depois de um tempo, o tempo da revelação, revelação do negativo e revelação no sentido amplo, você já amadureceu mais um pouco e pensa: “Isso poderia ser feito assim... de uma maneira mais perfeita”, ou “está tudo errado, não é nada disso”. Não se pode retocar, como na pintura, ou jogar fora ou rasgar, como se faz com uma fotografia. A perfeita representação ou a representação perfeita só existe em toda a sua sutileza na vida real, a cronologia é a montadora ideal. A montagem no cinema é arbitrária. Destrói a ordem interna do ator.

1980

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

E começa fevereiro…

A pré-produção já começou e está bastante adiantada. A equipe esteve em Lages e definiu muita coisa por lá. Fernando Leão, nosso produtor local, está mandando brasa, fechando apoios, buscando contatos com interessados em participar das filmagens e mediando nossa conversa com a prefeitura da cidade. Aguardamos ansiosos uma posição favorável de algumas frentes que ficaram abertas após nossa visita no velho-oeste.

Fernando Leão, o Produtor Local, pensa se aceita o cachê.

Até agora temos o apoio do jornal O Momento, que nos cederá uma kombi para o transporte de parte da equipe, e de alguns conterrâneos que irão nos emprestar os carros de cena: um fusca e uma variant. Rodaremos uma sequência no Motel Villages, que abriu as portas para a equipe com toda a boa vontade. Outro local que fomos muito bem recebidos foi no Aeroporto Federal de Lages, onde Cacos-de-Vidro chega num avião 60’s, pilotado pelo gentil senhor Ibanor.


Marx Vamerlatti, o Diretor de Fotografia, comtempla o céu de Lages

Loli Menezes, a Diretora de Arte, em dose dupla no Villages


O Momento, nosso apoiador, fez uma matéria de cinema!


A principal locação, porém, fica nas proximidades do chalé da família Vedana. Lá rodaremos a cena final do curta, uma perseguição desprovida de qualquer compromisso com a realidade. O local possui estradas com curvas sinuosas margeadas pelo perigoso rio Caveiras. Daí o nome: Salto Caveiras. Eu não poderia deixá-lo de fora da história!


Curvas periclitantes!

Sebastião, o Diretor de Produção, além dos outdoors!


E como não podia deixar de ser, em Lages aconteceram duas coisas curiosas: a primeira é que a cachoeira que eu havia visto na minha primeira visita, simplesmente desapareceu. Cheguei com toda a equipe e me deparei com uma rocha imensa sorvendo somente um filete d’água. Isso me fez refletir a frase do Humberto Mauro de que Cinema é Cachoeira. A queda estava lá, mas já não era mais a mesma. Assim como não o é a cada segundo que passa. Espero encontrá-la transbordante quando for filmá-la em março.
E espero que o sol nos banhe de luz.
Antes de voltarmos para casa, estávamos quase desistindo de encontrar um ator importante que irá fazer uma participação especial no filme. Antes de sair de Floripa, eu havia telefonado para Curitiba, onde ele está morando, para combinarmos um encontro em Lages. Mas ficamos de nos comunicar quando chegássemos. Ligamos direto para o celular do homem e nada. Sempre desligado. De repente, enquanto rodávamos pelo centro da cidade em direção ao posto de gasolina, Ele, o trovador-solitário, cowboy do Planalto Serrano, João Amorim, atravessa a rua diante do carro. Comoção geral. Tiramos alguns retratos para a posteridade e fechamos negócio ali mesmo, na frente do banco. Transeuntes o paravam na rua para cumprimentá-lo amigavelmente. E ele já ia fazendo a propaganda de seu próximo longa: Os Pistoleiros.


João Amorim e Marco Martins

Retornamos para Florianópolis bastante satisfeitos. Passamos a semana encaminhando ofícios, fechando elenco, finalizando roteiro e planificação e fazendo provas de figurino. As duas locações que estavam pendentes também já estão fechadas: um terraço no centro da cidade e um bar/boate. E para já dar a letra: faremos a festa de encerramento no Mix Café, no últimos dia de filmagem, dia 14 de março. Na parte da tarde filmaremos cenas com figuração convidada/disponível. De noite, quando a festa já estiver bombando, rodaremos alguns planos mais abertos. Desde já faço o convite para todos que estiverem interessados em participar. As atrações da noite ainda não estão fechadas.
Nesta próxima semana terei que me dedicar quase que exclusivamente para os ensaios com o elenco. Domingo fizemos uma sessão de Bonnie & Clyde no Blues Velvet Bar, o que já vai dar o que falar no primeiro encontro. Muitos tiros, bons diálogos, o amor e velhas piadas. A cena do assalto ao banco falido (o filme se passa durante o período da Depressão) é de tirar o chapéu. Clyde Barrow faz o velhinho do caixa ir até o carro repetir para Bonnie Parker, sua mulher, o que acabara de ouvir, que “o banco não tinha dinheiro”. Ela cai na gargalhada.
E antes que eu me esqueça: o Cine Marrocos, o último cinema de rua de Lages, vai fechar. Previsível e lastimável. Vou fazer uma cena lá . Afinal de contas, no “Veludo”, três lugares não existem mais: o Underground Rock Bar, O Brechó da Denise Richards e o terraço do Cecomtur (que ainda existe, mas é outro, como uma cachoeira).
É isso aí, uma contradição: o cinema é permanente e é provisório.
E o barco não pára.

Uma futura igreja? Um bingo? Um estacionamento?