Entre o mar e a favela, o horizonte e o morro, o leve e o bruto, a madeira e o concreto, o ferro e o arame - o discurso paradoxal, o elemento crítico. O olhar contundente de Ivens Machado. Na concretude de seu habitat a obra é por nós desvelada. Ali em seu ateliê a construção se faz clara, precisa e preciosa. A fotografia deflagra instantes únicos. Estar diante da obra de Ivens é estar diante do precipício. É pulsar dentro do limite. Tudo em sua obra é perfeita complexidade e deus passa a ser a coisa concreta no homem.
A partir de uma idéia metafísica, me senti incorporada as suas formas tanto na escultura, bem como, em suas pautas, ou mesmo na experiência vivida tão cruamente no vídeo Apertando Silvana. Os objetos por ele utilizados tais como tijolos, pregos, ponteiras, talhadeira, alicates, pedras brutas levam à experiência corpo-objeto até as últimas conseqüências. A criação se externa pela arte extrema. Manter o corpo emergência em um transe contínuo “criando para si um corpo sem órgão”. Segundo Ivens “ a opressão está diretamente ligada à problemática dos opostos que se dilaceram na identificação”. A experiência da dor, do medo, do desconforto me são dadas como elemento de confronto. O seu ato perverso perverte o perfeito. Na ambigüidade nasce o ato livre. O acoplamento do ser a pedra nos dá o acesso decodificação para o simulacro. Um outro discurso se curva. E nas entranhas do nosso discurso um outro curso para o documento dessa história visual
em nosso estado.
Silvana leal