sábado, abril 18, 2009

Sobre Beijos de Arame Farpado e seu processo de criação



Parte I

Dias antes de iniciar as filmagens, escrevi algumas coisas relacionadas aos patrocinadores e apoiadores mas não tive tempo de postar. E o texto envelheceu. Vou aproveitar a deixa e começar de novo.
O tempo. Sempre ele. Estou aprendendo a esperar e relaxar. É preciso a urgência diluída nas coisas todas da vida. Para que não pese demais.
Vou direto ao assunto: fiquei cinco anos esperando para realizar este pequeno curta-metragem. Cinco anos. Chega soar ridículo, mas foi decisão minha: fazer um curta com um bom suporte de captação de imagens, remunerar toda a equipe e elenco, finalizar em película. Isto custa bastante dinheiro.  E o sistema de captação de recursos no Brasil não é muito funcional, para pegar leve. Este filme só aconteceu graças ao Edital da Cinemateca Catarinense/Governo do Estado de SC, aos patrocinadores que fizeram uso da Lei Rouanet: BRDE, Plasticom e Fundação Badesc e aos tantos apoiadores fundamentais.


Neste texto não vou me ater ao vai-e-volta burocrático e toda a espera para levantar o dinheiro necessário para a produção. Esta conversa normalmente me cansa. Prefiro falar da força humana e das idéias que envolveram o projeto.




A Vinil Filmes funciona numa sala de 20X4 num edifício na frente do Clube 12, na rua Hercílio Luz, centro de Florianópolis. É ali que confabulamos todos os nossos planos e estratégias de ação: botamos nossos roteiros na mesa, desenhamos as cenas, provamos figurinos, usamos muito o telefone, ensaiamos os movimentos...





É o QG, lugar para encontrar os profissionais que abraçam nossas histórias. E estava pensando agora: certa vez o Alejandro, falando do Cena 11, o grupo de dança que ele encabeça a mais de dez anos, que eles “funcionam” como uma banda de rock, de pop. Acho que a Vinil tem um pouco disso também. Somos um coletivo independente. E não temos chefe.


Mas a cada filme que levantamos, é uma empresa que se forma. Contratos, cachês, despesas de alimentação, transporte etc. No caso de um curta, isto dura mais ou menos um mês. Vamos ao Beijos: em janeiro iniciamos a pré-produção. Antes ainda eu já tinha feito diversos contatos e mapeado a situação real para a realização do filme.





A idéia de filmar em Lages surgiu primeiro pela necessidade de mudar de cenário. Eu não conseguia imaginar as locações em Florianópolis. Eu precisava de algo novo. Beijos é um Bang-Bang Musical. Nada como ir filmar no velho-oeste, no Planalto Serrano, lugar mais próximo do céu, ideal para grandes tomadas.


Filmamos em 10 dias. 90% externa com tempo bom. Foram dias incríveis e inesquecíveis. A equipe e o elenco passou todo o tempo junto, dormindo no mesmo chalé. Dizem que isso não funciona com todo mundo, que muitas vezes pode atrapalhar a execução do trabalho, já que os profissionais podem se cansar do convívio, da “família” que provisoriamente se forma. No nosso caso, foi o que foi: sintonia. Cumprimos todas nossas diárias sem problemas. E todos, sem exceção, mandaram muito bem.
Depois disso, com o calor da filmagem ainda na pele, decidi editar o filme. Mais dez dias de trabalho incessante. Desta vez solitário, trancado no quarto, sincronizando os takes que foram escolhidos. Descobri que havia filmado mais que o necessário e que muita coisa boa que existe no material bruto iria ficar de fora. Ainda tive que me cuidar para não extrapolar o tempo (sempre ele) estabelecido pelo laboratório. Quinze minutos, foi o que consegui pagar. Deste período não tenho nenhuma foto. Mas que graça teria um cara trancado num quarto na frente de um computador?



O processo de transfer é calculado por minuto. Custa em média mil reais por minuto. Mas se engana quem acha que a conta fica por aí. Muito do trabalho de finalização eu desconhecia e as surpresas foram aparecendo no processo. Mixagem de som, foleys, marcação de cor, de luz. Primeira cópia. Eu, o Marx e o Leo viajamos para Sampa e tocamos ficha. Gugu e William são grandes parceiros. Fizemos o que tinha que ser feito e voltamos para Floripa. O filme foi finalizado e estou aguardando a lata chegar pelo correio. Como uma criança que espera o Papai Noel. Muito AFLITO!!!


E por falar em criança, na segunda-feira vou começar a filmar “O Campeonato de Pescaria”, curta infantil que eu e a Luiza Lins vamos dirigir. A pré acabou hoje e depois de amanhã já estaremos fisgando planos e pescando seqüências. Não vejo a hora!

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