Acontece que naquele período - 5 anos atrás - eu, o Marco, a Loli, a Gláucia, o Jefferson, o Dog e o Lucão resolvemos criar a Vinil Filmes. E decidimos fazer um piloto do que seria um programa muito doido para TV, que chamamos de Videophone. Eu fiquei de criar um quadro. Acontece também que eu andava apaixonado por Buster Keaton e Jerry Lewis. Andava estudando os cômicos antigos e muito interessado na comédia física no cinema. E aí juntou isso com aquilo e eu escrevi Ângelo, O Coveiro: uma proposta de série com micro-episódios mudos que contava o dia-a-dia de um coveiro expressionista do Cemitério do Itacorubi.
Pedimos pro Rafael Schlichting fotografar pra gente, o Marco dirigiu, a Loli inventou uma roupa, trouxe uma peruca. Quando a gente estava pintando os meus olhos, o Ângelo nasceu. Ele tinha mandíbula prognata. O tal programa muito louco que ia revolucionar a linguagem televisiva catarinense não se criou, mas a Vinil sim. Depois disso muita coisa aconteceu, muitos filmes e projetos. Colocamos o filminho do Ângelo no Youtube e fez sucesso. Depois enviei para uns festivais e todo mundo gostava dele.
Eu continuei trabalhando sobre a idéia, rabiscando sketches e pensando em formatos em que o personagem pudesse se desenvolver. Até que abriram as inscrições pro Edital da Cinemateca, isso em 2007. Eu decidi juntar os rabiscos e inventar um curta. O projeto tirou primeiro lugar no concurso, a Vinil Filmes produziu, e agora vamos mostrar pra todo mundo mais um filho nosso. Filho meio estranho, com um jeitinho esquisito e diferente, mas muito querido e amado.
Nessa hora eu fico emocionado, porque fazer filmes é essa coisa doida de trabalho coletivo, e eu penso em todo mundo que participou do processo e me ajudou. Meus companheiros da Vinil são tudo pra mim. O Marco é praticamente um co-autor, estava comigo todo o tempo, decupamos e discutimos cada plano, e no set ele comandou a equipe pra que eu pudesse atuar tranquilo. Ele acreditou tanto, tanto. A Loli entendeu o personagem e concebeu um universo plástico pra ele, junto com sua equipe de artistas habilidosos. O Dog se dedicou entre outras coisas ao P&B surpreendente e aos efeitos lindos da imagem. O Jeff trouxe músicas incríveis. A Gláu chefiou as contas e ainda brilhou no set como a amada imortal do Ângelo, sempre doce e impecável.
E por falar nisso tem os outros atores do elenco, uma turma escolhida a dedo por dominar o dom do carão e que pra mim, claro, é a parte mais divertida do trampo: o Paulo, o Malcon, a Cristina, a Milena... É babar muito ovo dizer que todos estão ótimos? Ah! Foda-se, eu os acho maravilhosos mesmo. Tem ainda claro o Marx e sua equipe. Tudo que ele olha vira ouro, e eu tenho sorte quando a câmera dele olha pra mim. Não dá pra falar de todo mundo, porque um filme, mesmo pequeno, reúne muitos colaboradores, mas eu só tenho a agradecer.
Bom, agora eu moro no Centro, e não passo mais todo dia pelo Cemitério do Itacorubi. Acho que cresci, vejo cada dia as coisas de um jeito novo. Continuo insatisfeito, mas mais tranquilo com isso. Quero dizer que estou feliz e ansioso pra ver como as pessoas vão olhar pro Ângelo depois de tudo isso, espero que elas também sejam conquistadas pela sua doçura.
Renato Turnes
fotos do Prim
Teatro da UBRO
dia 03 de junho - quarta-feira
20h
E depois a festa de lançamento:
Blues Velvet Bar - ZUZUHELL especial!
Exibição as 22h
5 comentários:
que lindo o texto, massa ler e lembrar de ti descrevendo, melhor do que se a gente visse ao vivo, todas essas fases do Ângelo, até chegar hoje. e ó, do itacorubi pro centro a vida muda mesmo! é transcontinental
O Ângelo precisa urgentemente conhecer os cemitérios de campanha, pois é!
Parabéns e tô doido pra ver!
Abraço, Tio Fê - direto do Alasca Lageano.
EEEEEEE, nosso filinhooo!!!
que texto lindo Rê, sempre me emocionas com as tuas palavras e sentimentos.
AMO.
Eu aqui, leitora invisível do blog, quando noto esse post acabo ficando deprimida. Não nego que minha vontade de ver o curta me espantou, uma pena eu só ter visto isso agora, que já é tarde. Vou torcer para que ocorram novas apresentações :)
amado, tuas palavras continuam tocando a gente, tanto quanto deverá me tocar o filme, que confesso não assisti, meu relapso-tempo não deixa de te admirar em dias de inverno ou quando penso há quem faça coveiros nessa ilha e produções que merecem certamente os prêmios todos, sobretudo a premiação de um "doce olhar". beijos mil, chrisinho.
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